Em
carta aberta, reproduzida em diversos blogs, mas que a mídia não ousa
comentar, o Procurador do Ministério Público e ex Ministro da Justiça,
no governo Dilma, o Doutor (este faço questão de colocar o título, e com
letra maiúscula) Eugênio Aragão, aniquilou com o playboy de sacristia,
Deltan Dalagnol, o do Power Point, o que não tem caráter, só convicções.
Sobrou no rabo do Moro também.
O motivo foi o amigo do japonês bonzinho ter postado que quem não concorda com a Lava Jato é vira-lata.
Como eu gostaria de ter escrito esta carta!
Claro que o contínuo do Moro, contínuo da Cia, não vai responder.
Estou de alma lavada, enxaguada e no varal, feliz por ver uma nulidade reduzida ao que é, só uma nulidade.
Eis a carta, na íntegra, de leitura obrigatória:
“Minha cartinha aberta ao Dallagnol:
Meu caro colega Deltan Dallagnol,
“Denn
nichts ist schwerer und nichts erfordert mehr Charakter, als sich in
offenem Gegensatz zu seiner Zeit zu befinden und laut zu sagen: Nein.”
(Porque
nada é mais difícil e nada exige mais caráter que se encontrar em
aberta oposição a seu tempo e dizer em alto e bom som: Não!). Kurt Tucholsky
Acabo
de ler por blogs de gente séria que você estaria a chamar atenção, no
seu perfil de Facebook, de quem “veste a camisa do complexo de
vira-lata”, de que seria “possível um Brasil diferente” e de que a hora
seria agora. Achei oportuno escrever-lhe está carta pública, para que
nossa sociedade saiba que, no ministério público, há quem não bata
palmas para suas exibições de falta de modéstia.
Vamos
falar primeiro do complexo de vira-lata. Acredito que você e sua turma
são talvez os que têm menos autoridade para falar disso, pois seus
pronunciamentos têm sido a prova mais cabal de SEU complexo de
vira-lata. Ainda me lembro daquela pitoresca comparação entre a
colonização americana e a lusitana em nossas terras, atribuindo à última
todos os males da baixa cultura de governação brasileira, enquanto o
puritanismo lá no norte seria a razão de seu progresso. Talvez você
devesse estudar um pouco mais de história, para depreciar menos este
País. E olha que quem cresceu nas “Oropas” e lá foi educado desde menino
fui eu, hein… talvez por isso não falo essa barbaridade, porque tenho
consciência de que aquele pedaço de terra, assim como a de seu querido
irmão do norte, foram os mais banhados por sangue humano ao longo da
passagem de nossa espécie por este planeta. Não somos, os brasileiros,
tão maus assim, na pior das hipóteses somos iguais, alguns somos
descendentes dos algozes e a maioria somos descendentes das vítimas.
Mas
essa sua teorização de baixo calão não diz tudo sobre SEU complexo.
Você à frente de sua turma vão entrar na história como quem contribuiu
decisivamente para o atraso econômico e político que fatalmente se
abaterão sobre nós. E sabem por que? Porque são ignorantes e não
conseguem enxergar que o princípio fiat iustitia et pereat mundus nunca
foi aceita por sociedade sadia qualquer neste mundão de Deus. Summum
jus, summa iniuria, já diziam os romanos: querer impor sua concepção
pessoal de justiça a ferro e fogo leva fatalmente à destruição, à
comoção e à própria injustiça.
E
o que vocês conseguiram de útil neste País para acharem que podem
inaugurar um “outro Brasil”, que seja, quiçá, melhor do que o vivíamos?
Vocês
conseguiram agradar ao irmão do norte que faturará bilhões de nossa
combalida economia e conseguiram tirar do mercado global altamente
competitivo da construção civil de grandes obras de infraestrutura as
empresas nacionais. Tio Sam agradece. E vocês, Narcisos, se acham
lindinhos por causa disso, né? Vangloriam-se de terem trazido de volta
míseros dois bilhões em recursos supostamente desviados por práticas
empresariais e políticas corruptas. E qual o estrago que provocaram para
lograr essa casquinha? Por baixo, um prejuízo de 100 bilhões e mais de
um milhão de empregos riscados do mapa. Afundaram nosso esforço de
propiciar conteúdo tecnológico nacional na extração petrolífera,
derreteram a recém reconstruída indústria naval brasileira.
Claro,
não são seus empregos que correm riscos. Nós ganhamos muito bem no
ministério público, temos auxílio-alimentação de quase mil reais,
auxilio-creche com valor perto disso, um ilegal auxílio-moradia tolerado
pela morosidade do judiciário que vocês tanto criticam. Temos um
fantástico plano de saúde e nossos filhos podem frequentar a liga das
melhores escolas do País. Não precisamos de SUS, não precisamos de
Pronatec, não precisamos de cota nas universidades, não precisamos de
bolsa-família e não precisamos de Minha Casa Minha Vida. Vivemos numa
redoma de bem estar. Por isso, talvez, à falta de consciência histórica,
a ideologia de classe devora sua autocrítica. E você e sua turma não
acham nada de mais milhões de famílias não conseguirem mais pagar suas
contas no fim do mês, porque suas mães e seus pais ficaram desempregados
e perderam a perspectiva de se reinserirem no mercado num futuro
próximo. Mas você achou fantástico o acordo com os governos dos EEUU e
da Suíça, que permitiu-lhes, na contramão da prática diplomática
brasileira, se beneficiarem indiretamente com um asset sharing sobre
produto de corrupção de funcionários brasileiros e estrangeiros.
Fecharam esse acordo sem qualquer participação da União, que é quem, em
última análise, paga a conta de seu pretenso heroísmo global e
repassaram recursos nacionais sem autorização do Senado. Bonito, hein?
Mas, claro, na visão umbilical corporativista de vocês, o ministério
público pode tudo e não precisa se preocupar com esses detalhes
burocráticos que só atrasam nosso salamaleque para o irmão do norte! E
depois fala de complexo de vira-lata dos outros!
O
problema da soberba, colega, é que ela cega e torna o soberbo incapaz
de empatia, mas, como neste mundo vale a lei do retorno, o soberbo
também não recebe empatia, pois seu semblante fica opaco, incapaz de se
conectar com o outro.
A
operação de entrega de ativos nacionais ao estrangeiro, além de beirar
alta traição, esculhambou o Brasil como nação de respeito entre seus
pares. Ficamos a anos-luz de distância da admiração que tínhamos mundo
afora. E vocês o fizeram atropelando a constituição, que prevê que
compete à Presidenta da República manter relações com estados
estrangeiros e não ao musculoso ministério público. Daqui a pouco vocês
vão querer até ter representação diplomática nas capitais do circuito
Elizabeth Arden, não é?
Ainda
quanto a um Brasil diferente, devo-lhes lembrar que “diferente” nem
sempre é melhor e que esse servicinho de vocês foi responsável por
derrubar uma Presidenta constitucional honesta e colocar em seu lugar
uma turba envolvida nas negociatas que vocês apregoam mídia afora. Esse é
o Brasil diferente? De fato é: um Brasil que passou a desrespeitar as
escolhas políticas de seus vizinhos e a cultivar uma diplomacia da
nulidade, pois não goza de qualquer respeito no mundo. Vocês ajudaram a
sujar o nome do País. Vocês ajudaram a deteriorar a qualidade da
governação, a destruição das políticas inclusivas e o desenvolvimento
sustentável pela expansão de nossa infraestrutura com tecnologia
própria.
E
isso tudo em nome de um “combate” obsessivo à corrupção. Assunto do
qual vocês parecem não entender bulhufas! Criaram, isto sim, uma cortina
de fumaça sobre o verdadeiro problema deste Pais, que é a profunda
desigualdade social e econômica. Não é a corrupção. Esta é mero
corolário da desigualdade, que produz gente que nem vocês, cheios de
“selfrightousness”, de pretensão de serem justos e infalíveis, donos da
verdade e do bem estar. Gente que pode se dar ao luxo de atropelar as
leis sem consequência nenhuma. Pelo contrário, ainda são aplaudidos como
justiceiros.
Com
essa agenda menor da corrupção vocês ajudaram a dividir o País, entre
os homens de bem e os safados, porque vocês não se limitam a julgar
condutas como lhes compete, mas a julgar pessoas, quando estão longe de
serem melhores do que elas. Vocês não têm capacidade de ver o quanto seu
corporativismo é parte dessa corrupção, porque funciona sob a mesma
gramática do patrimonialismo: vocês querem um naco do estado só para
chamar de seu. Ninguém os controla de verdade e vocês acham que não
devem satisfação a ninguém. E tudo isso lhes propicia um ganho material
incrível, a capacidade de estarem no topo da cadeia alimentar do serviço
público. Vamos falar de nós, os procuradores da república, antes de
querer olhar para a cauda alheia.
Por
fim, só quero pontuar que a corrupção não se elimina. Ela é da natureza
perversa de uma sociedade em que a competição se faz pelo fator
custo-benefício, no sentindo mais xucro. A corrupção se controla.
Controla-se para não tornar o estado e a economia disfuncionais. Mas
esse controle não se faz com expiação de pecados. Não se faz com
discursinho falso-moralista. Não se faz com o homilias em igrejas. Se
faz com reforma administrativa e reforma política, para atacar a causa
do fenômeno é não sua periferia aparente. Vocês estão fazendo populismo,
ao disseminarem a ideia de que há o “nós o povo” de honestos
brasileiros, dispostos a enfrentar o monstro da corrupção feito São
Jorge que enfrentou o dragão. Você e eu sabemos que não existe isso e
que não existe com sua artificial iniciativa popular das “10 medidas”
solução viável para o problema. Esta passa pela revisão dos processos
decisórios e de controle na cadeia de comando administrativa e pela
reestruturação de nosso sistema político calcado em partidos que não
merecem esse nome. Mas isso tudo talvez seja muito complicado para você e
sua turma compreenderem.
Só
um conselho, colega: baixe a bola. Pare de perseguir o Lula e fazer
teatro com PowerPoint. Faça seu trabalho em silêncio, investigue quem
tiver que investigar sem alarde, respeite a presunção de inocência,
cumpra seu papel de fiscal da lei e não mexa nesse vespeiro da
demagogia, pois você vai acabar ferroado. Aos poucos, como sempre, as
máscaras caem e, ao final, se saberá que são os que gostam do Brasil e
os que apenas dele se servem para ficarem bonitos na fita! Esses, sim,
costumam padecer do complexo de vira-lata!
Um
forte abraço de seu colega mais velho e com cabeça dura, que não se
deixa levar por essa onda de “combate” à corrupção sem regras de
engajamento e sem respeito aos costumes da guerra.”
O trombadinha de Curitiba e seus coleguinhas de gang podiam dormir sem essa.
Francisco Costa
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