Conservadores
radicais também têm reagido com ódio ao crescimento da consciência da
diversidade religiosa, à autoafirmação dos ateus e neopagãos contra o
preconceito, à popularização de correntes esotéricas new-age e orientais, à
multiculturalidade e às demandas pela laicidade do Estado.
Para
eles, os “valores cristãos” estão sendo “esquecidos” e “vilipendiados”, e a
“imoralidade” e a “cristofobia” têm ameaçado colapsar a ordem social do
ocidente, que “sempre foi cristão”.
Só que,
se observarmos bem, notaremos que o pior opositor das virtudes e
princípios morais defendidos por Jesus Cristo no Novo Testamento
nem de longe são os não cristãos, mas sim a própria “direita cristã”. Afinal:
Enquanto Jesus defendia os mansos, os misericordiosos e os sedentos de justiça, a “direita cristã” tem sido inaceitavelmente raivosa, desprovida de misericórdia e injusta ao declarar ódio às minorias políticas; defender linchamento, pena de morte e violência policial abusiva e aceitar a criminalização de inocentes;
Enquanto Jesus afirmava que seria mais fácil um camelo passar por dentro do buraco da agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus e aconselhava seus seguidores a darem tudo o que tinham de posses aos pobres, as grandes igrejas pentecostais exaltam a opulência de seus administradores e “ensinam” seus fiéis a ansiarem por dinheiro e riqueza material e desprezarem a dignidade humana;
Enquanto Jesus orienta os cristãos a não julgarem para não serem julgados, os conservadores assumidos são os primeiros a apontarem dedos venenosos, muitas vezes de maneira criminosa, contra quem é e pensa diferente deles, com racismo, machismo, homofobia, transfobia, ódio social, intolerância política etc.;
Enquanto Jesus abençoava os que sofriam perseguição por causa da justiça, os conservadores têm aplaudido cada ação de repressão e injustiça estatal contra minorias como jovens negros pobres e militantes de esquerda;
Enquanto Jesus defendia que se dê “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, a bancada teocrática, especialista em misturar religião (corrompida) com política, tem pavimentado o caminho de impor ao Brasil uma espécie de clerofascismo pentecostal;
Enquanto Jesus expulsava vendilhões do templo, a direita “evangélica” tem faturado milhões no seu trabalho de converter a fé cristã em oportunidade de negócio e merchandising;
Enquanto Jesus era injustiçado num julgamento no qual a população optou por soltar Barrabás, os “cristãos” adeptos do ódio social louvam os Barrabases do século 21 e vociferam insultos contra quem defende compaixão, justiça social, misericórdia, coerência moral e outros valores que, de acordo com a Bíblia, saíram da boca do próprio Cristo;
Entre muitos outros exemplos de hipocrisia moral que tornam a religiosidade dessas pessoas uma mera concha vazia.
Se a
moralidade cristã está em decadência hoje em dia, a responsabilidades disso
é dos próprios que enchem a boca para se dizerem “cristãos” mas tratam como
lixo os valores ético-morais do cristianismo.
Texto complementar de
Magno Malta, aquele que cerra os dentes e vocifera como um pastor
pregando contra Satanás – é o que eles mais gostam de fazer – disse na
noite de hoje que Dilma será cassada por Salomão. Ele não tem vergonha
de citar um dos personagens mais justos das histórias bíblicas para
fazer referência a esta sujidade que é o processo de impeachment,
nascido de uma vingança e finalizado por acordos ainda mais imundos.
Por ocasião do processo de cassação de Dilma Roussef
Trazer a questão religiosa neste momento envolve a subjetividade que o
processo jurídico dispensa. Se os fatos não conseguem, por si,
incriminar a presidenta Dilma, o mais fácil é encontrar em objetos
internos e espirituais a explicação para esta bandalheira que mata o
povo de vergonha. Não estão decidindo por suas consciências, mas por
cargos; não estão escolhendo pelo bem dos brasileiros, mas por sua
satisfação pessoal; o ocaso da democracia não lhes punge, porque sobre o
seu catafalco pisotearão a festejar a tomada do poder.
O mesmo uso da religião fez Eduardo Cunha ao comprar domínios na
internet utilizando-se do nome de Jesus. Cultos evangélicos se tornaram
frequentes desde que ele assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro
de 2015. A bancada evangélica se regozijava com as declarações de Cunha a
respeito da fé; foi ele o anfitrião de Michel Temer numa igreja
evangélica, no Rio de Janeiro, quando o interino admitiu entregar as tarefas mais difíceis à fé do aliado. E o que resultou disso? Pautas bomba, corrupção, propinas, chantagens, vinganças, ameaças.
A religião e a fé são indispensáveis,
desde que não sejam usadas descaradamente para ludibriar. Quando, na
USP, protagonizou aquele espetáculo horrendo,
Janaína Paschoal não pensou nos netos da Dilma e em Deus. Quando disse
que acabaria com república da jararaca não trazia no coração preceito
religioso ou humanístico algum. E por que este clima ecumênico agora? É
para mascarar que o ínfimo de suas consciências está sendo corroído pela
má batalha. É o lado certo da história que grita dizendo: ‘você está do
lado errado’.
Talvez não tenhamos que esperar
cinquenta anos para que se admita este golpe. Em 1964 os jornalões
diziam não haver ditadura alguma. O mergulho abismal que o Brasil dará
nem mesmo os anjos do Senhor o salvarão. E não o salvarão de uma trama
urdida durante mais de um ano para entregar o poder a quem não merece.
Coisa triste é um país que dá ouvidos a charlatões políticos metidos a
pastor.
Porque da ira e dos conchavos deles nem mesmo Deus escapa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
1) Dê a sua opinião, qualquer que seja
2) Respeite a opinião alheia, qualquer que seja
3) Mantenha-se no tema
4) Mantenha-se no campo dos argumentos
5) Não ofenda os demais participantes (isso inclui o jornalista)
6) Não incite a violência, a intolerância ou o preconceito contra ninguém, sob nenhum pretexto
7) Não use caixa alta. No mundo virtual, isso é grito
8) Idealmente, procure usar argumentos que não foram dados previamente ao longo da discussão
9) O comentarista tem a responsabilidade legal sobre o que escreveu. Use seu comentário com inteligência.