"A confusão entre o interesse público e o privado é manifesta e estarrecedora", afirmaram Wadih Damous e Paulo Pimenta
Do Jornal GGN
Após a notícia de que o procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, cobraria entre R$ 30 mil e 40 mil para dar palestras, os deputados da oposição Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS) entraram com uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), pedindo esclarecimentos.
Coluna divulgada por Mônica Bergamo nesta segunda-feira (19) mostra
que o procurador pediu a uma empresa que oferecia as suas palestras
para retirar "imediatamente" as informações do site. A empresa
Motiveação trazia informações de Dallagnol como um dos palestrantes.
Uma página estava dedicada ao procurador, com informações sobre o
serviço e também com o valor de até R$ 40 mil por palestra. Mas após a
notícia ser divulgada, a página foi retirada, com a mensagem: "Esta
página foi retirada do ar, pois não foi autorizada pelo palestrante e
nem por sua equipe. A Motiveação Palestras vem por meio desta se
retratar por qualquer tipo de prejuízo e/ou situação que tenha vindo a
causar ao Sr. Deltan Dallagnol e aproveitamos para deixar nosso apoio ao
trabalho muito bem feito que o mesmo vem ajudando a tornar realidade e
história em nosso país".
O procurador, que já confirmou a cobrança de palestras realizadas
entre 2016 e 2017, e que o valor seria destinado a "entidades
filantrópicas ou para a promoção da cidadania, da ética e da luta contra
a corrupção", não informa as quantias dos pagamentos pelo serviço.
"A confusão entre o interesse público e o privado é manifesta e
estarrecedora", afirmaram. Ao CNMP, os deputados federais protocolaram
uma reclamação disciplinar para "apuração de infração disciplinar
resultante do exercício irregular de atividade comercial de vendas de
palestras".
Sobre a manifestação de Dallagnol, de que o dinheiro foi destinado a
entidades, os parlamentares lembram que o procurador "admite
desenvolver atividade comercial lucrativa proferindo palestras, a
pretexto de financiar entidades filantrópicas e gerir um fundo para
custear despesas decorrentes de atuação de 'servidores públicos em
operações de combate à corrupção', depois de descontar o valor de 10%
para despesas pessoais e tributos.".
Por outro lado, destacam que "a nenhum funcionário público, seja
bem ou mal intencionado, é lícito o exercício de atividade lucrativa
para custear a administração". "Desta forma, não é a destinação do
recurso que suplanta a ilegalidade do ato, fosse assim, poderia ser tido
por legal o comércio de drogas, desde que a finalidade fosse a de doar
parte do lucro obtido para entidades filantrópicas ou para formar um
suposto fundo de 'combate' ao que quer seja."
Por ser vedado aos membros do Ministério Público "receber, a
qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas", segundo a Constituição
Federal, os parlamentares solicitaram informações sobre o contrato entre
a empresa e Dallagnol e os seus termos.
"Ao exercer atividade lucrativa com a venda de palestras, o
Reclamado comete infração disciplinar a ser reconhecida e processada por
este Conselho Nacional do Ministério Público", completaram.
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